Pedro Norton de Matos: O Jardineiro da Sustentabilidade e da Liderança Transformadora
“Sou jardineiro.” É assim que Pedro Norton de Matos se apresentou. Pode parecer uma descrição modesta para alguém que construiu uma carreira impressionante como gestor em empresas multinacionais e que hoje é uma referência em sustentabilidade em Portugal. No entanto, esta metáfora reflete a essência da sua filosofia: cuidar, acreditar no futuro e plantar as bases para que algo significativo floresça.
“Os jardineiros acreditam no futuro. Quando semeamos, acreditamos que vamos colher; quando transplantamos, acreditamos que o transplante vai funcionar”, explica. E Pedro Norton de Matos aplica essa visão não só à jardinagem literal, mas também à sua abordagem à vida e à gestão: “Eu digo que sou jardineiro porque faço mesmo jardinagem, mas também porque acredito no futuro e no potencial de crescimento em tudo o que faço.”
Uma Carreira Multifacetada: Da Gestão à Sustentabilidade
Economista de formação, formado em Organização e Gestão de Empresas pelo ISCTE, Pedro Norton de Matos teve uma carreira marcada por posições de liderança em grandes empresas nos setores da tecnologia e telecomunicações. Desempenhou papéis-chave em Portugal, Espanha e Itália, tendo sido CEO de projetos relevantes, como a ONI, e liderado iniciativas de transformação em multinacionais de referência. Contudo, a gestão nunca foi apenas sobre números e resultados financeiros.
“Desde cedo, nas cadeiras que escolhi na universidade, já me interessava por temas ligados à psicologia social e organizacional”, conta. Essa sensibilidade levou-o a valorizar sempre o papel das pessoas nas organizações, um princípio que se tornou central na sua abordagem de liderança.
Além disso, a ligação com a natureza sempre esteve presente na sua vida. “Desde criança, os meus relatórios da pré-primária diziam que eu andava sempre com bichos nos bolsos. Sempre valorizei a fauna e a flora, e acredito que só protegemos o que conhecemos e amamos.” Essa paixão pela natureza culminou na criação do Greenfest, o maior evento de sustentabilidade em Portugal, que já conta com quase duas décadas de história.
“Os pilares da sustentabilidade – People, Profit, Planet – sempre foram intuitivos para mim. Na área do ‘profit’, tive formação e carreira na gestão; no ‘planet’, sempre valorizei a natureza; e no ‘people’, dediquei-me a políticas centradas nas pessoas. Esse equilíbrio é a base para um futuro mais sustentável.”
Liderança Transformadora: O Poder do “AME”
Ao longo da sua carreira, Norton de Matos enfrentou inúmeros desafios, especialmente no contexto da gestão internacional e da transformação organizacional. A experiência acumulada levou-o a criar um modelo simples, mas poderoso, para descrever a sua abordagem à liderança: o acrónimo AME – Alinhar, Mobilizar, Envolver.
“Alinhar é essencial”, afirma. “É como ajustar a direção de um carro: se a direção está desalinhada, gastamos mais combustível, os pneus desgastam-se mais rapidamente e corremos maior risco. O mesmo acontece numa organização: sem alinhamento de valores, visão e missão, perdemos eficiência e oportunidades, além de nos tornarmos mais vulneráveis à concorrência.”
Mobilizar, por sua vez, requer uma liderança ética e transparente. “Num projeto de transformação, é crucial que todos entendam o porquê da mudança e se sintam parte dela. Liderar pelo exemplo, como dizem os anglo-saxões, é fundamental. É preciso que os líderes ‘walk the talk’, ou seja, que façam o que pregam.”
Por fim, envolver as pessoas é o que permite que as mudanças realmente aconteçam. “Quando somos envolvidos, compreendemos melhor e participamos de forma mais ativa. Não basta dizer às pessoas o que fazer; é preciso mostrar como fazer e convidá-las a construir a solução connosco.”
Os Desafios da Gestão Internacional
Entre os momentos mais marcantes da sua carreira, Norton de Matos destaca os anos em que liderou projetos internacionais, assumindo responsabilidades em Espanha e Itália. Essa experiência trouxe desafios culturais e linguísticos, mas também se revelou profundamente enriquecedora.
“Ser um português a liderar em Espanha nos anos 90 era muito desafiante. Hoje, com a globalização, há mais abertura, mas naquela época, para que um português fosse escolhido, era necessário que algo estivesse a correr muito bem em Portugal e muito mal em Espanha”, conta. Acrescenta que a tarefa não era apenas liderar, mas transformar: “Foi um projeto de transição e melhoria, com foco em consolidar a quota de mercado, fidelizar clientes e atrair talento.”
A experiência italiana trouxe novos desafios. “Eu pedia para falarem comigo em italiano, porque entendia perfeitamente, mas respondia em inglês. Viver em Espanha e tentar falar italiano era um desastre; saía-me uma mistura de português e espanhol. Ainda assim, foi uma experiência muito rica culturalmente.”
Pedro Norton de Matos admite que os portugueses, muitas vezes, subestimam a complexidade de trabalhar em ambientes internacionais. “Temos aquela mania de que falamos todas as línguas, mas o espanhol de contrabando que usamos para férias não é suficiente para trabalhar. Além disso, há os falsos amigos linguísticos, que podem causar situações embaraçosas.”
O Papel da Sustentabilidade e o Legado do “Greenfest”
Ao longo de toda a sua trajetória, a sustentabilidade foi uma constante. Para Pedro, vai além do meio ambiente: “Trata-se de integrar o respeito pela natureza com a valorização das pessoas e a responsabilidade económica.” O Greenfest, que idealizou e organiza há quase 20 anos, reflete essa visão, reunindo empresas, instituições e cidadãos para promover práticas sustentáveis.
“Sempre acreditei que sustentabilidade é mais do que uma palavra da moda. É um compromisso. E quanto mais cedo o abraçarmos, melhor para todos – para o planeta, para as pessoas e até para os negócios.”
Um ‘Jardineiro’ de Pessoas, Ideias e Futuro
Pedro Norton de Matos não é apenas um gestor ou um defensor da sustentabilidade. É, de facto, um jardineiro – alguém que cultiva ideias, cuida de equipas e planta sementes de mudança com a esperança de um futuro melhor. Com o seu modelo de liderança centrado no AME e a sua dedicação ao equilíbrio entre pessoas, planeta e resultados, deixa claro que liderar é, acima de tudo, acreditar no potencial de crescimento de tudo o que é bem cuidado.
“Se todos os líderes praticarem o AME e acreditarem no futuro como um jardineiro acredita na primavera, não tenho dúvidas de que conseguiremos criar um mundo mais sustentável e mais justo”, conclui.