Sustentabilidade Empresarial: Desafios, Oportunidades e o Papel do Alinhamento Humano
A sustentabilidade corporativa tem-se tornado um eixo central no contexto empresarial atual, não apenas como resposta à pressão regulatória, mas também como um motor de transformação organizacional. Vivemos o que alguns descrevem como “o olho do furacão” ou um “tsunami de mudanças”, impulsionado pela transposição das regulamentações europeias para legislações nacionais. Este movimento gera um forte impacto nas organizações, levando a alterações profundas nos seus processos e estruturas.
A Força da Regulação e os Desafios para as Empresas
A regulação é forçosamente um catalisador deste movimento. Sem ela, o progresso no âmbito da sustentabilidade teria sido mais lento. Contudo, há um peso burocrático considerável associado às novas exigências, como no caso do projeto CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive). Este requer que as empresas invistam em tecnologia e sistemas de informação para assegurar dados confiáveis e de qualidade, além de fomentar a coordenação interna para recolher informações ao longo da cadeia de valor. Segundo Pedro Norton de Matos, “isto é irreversível. Com maior ou menor aceleração, está a acontecer e vai continuar a acontecer”.
Este cenário apresenta desafios significativos, como a falta de profissionais qualificados em número suficiente para liderar e implementar estas mudanças. No entanto, as dificuldades trazem consigo oportunidades. Como observado, “há uma oportunidade de transformação das organizações, obrigando-as a uma maior colaboração interna entre áreas como sustentabilidade, recursos humanos e sistemas de informação”.
Oportunidades de Competitividade e Inovação
A sustentabilidade não se limita a atender exigências regulatórias, mas oferece possibilidades para aumentar a competitividade e estimular a inovação. A transformação cultural interna surge como uma das maiores oportunidades: empresas que enfrentam esses desafios desenvolvem uma cultura de cooperação mais forte, com diálogos abertos e transparentes. Este tipo de alinhamento humano torna-se essencial para enfrentar questões complexas, como o impacto ambiental e social das atividades empresariais.
Adicionalmente, a análise de dupla materialidade tem ganhado destaque. Este conceito exige que as empresas considerem tanto os impactos externos na sua operação (materialidade financeira) quanto os efeitos das suas atividades no ambiente, comunidades e outras partes interessadas (materialidade de impacto). Isso requer um diagnóstico abrangente para priorizar os temas mais relevantes, dada a impossibilidade de abordar todas as questões identificadas.
O Papel da Cadeia de Valor e o Scope 3
Outro ponto crítico é o gerenciamento de emissões e impactos indiretos, conhecidos como Scope 3. Enquanto as emissões do Scope 1 e 2 estão sob o controle direto da organização, o Scope 3 abrange toda a cadeia de valor, onde estão localizadas mais de 80% das oportunidades de melhoria para muitas empresas. Este aspeto exige um diálogo ativo entre grandes empresas e os seus fornecedores, criando um ambiente de colaboração para alinhar práticas sustentáveis.
Para as pequenas e médias empresas (PMEs), que muitas vezes fazem parte do Scope 3 das grandes organizações, os desafios são ainda maiores. No entanto, estas também têm a oportunidade de se posicionarem estrategicamente para manterem relevância nas cadeias de valor e competirem em mercados internacionais.
Uma Transição Inadiável e o Papel do Upskilling
A sustentabilidade é agora “sim ou sim”. Para além de exigências legais, as empresas enfrentam pressões competitivas para alinhar-se a valores sustentáveis, sob o risco de perderem negócios para concorrentes mais preparados. Nesse contexto, o upskilling e reskilling de colaboradores têm-se tornado fundamentais. Projetos como a capacitação de “embaixadores de sustentabilidade” demonstram o poder de iniciativas que promovem competências internas e fomentam a cultura de sustentabilidade.
O Papel da Europa e a Concorrência Global
Apesar de liderar a agenda da sustentabilidade, a Europa enfrenta desafios ao competir com mercados globais que operam sob normas menos rígidas. Essa assimetria levanta questões sobre a equidade comercial, mas reforça a necessidade de as empresas europeias apostarem na diferenciação sustentável como uma vantagem competitiva.
Concluindo, a transição para um modelo de economia circular e descarbonizada é inevitável. Como destacado, “o desafio agora é descobrir o como. A questão deixou de ser se as empresas devem alinhar-se à sustentabilidade, mas sim como fazê-lo de maneira eficiente e eficaz”.