
Imagine um barco a afundar… e o capitão está a discutir com a tripulação sobre o lugar da mobília no convés. Parece absurdo? Pois bem — é assim que muitas empresas funcionam quando a síndrome de dono toma conta da liderança. Emoções descontroladas, resistência à mudança, decisões pessoais disfarçadas de estratégia. A boa notícia? Um Interim Manager não entra para agradar. Entra para desbloquear.
Mas… o que é a Síndrome de Dono?
Não se trata (apenas) de fundadores apegados à empresa. A síndrome de dono é um padrão emocional, muitas vezes inconsciente, onde uma ou mais pessoas confundem a sua identidade pessoal com a organização. Os sintomas são clássicos:
- “Esta empresa é a minha vida!” (perigoso)
- “Sempre fizemos assim.” (tóxico)
- “Não preciso de conselhos externos.” (insustentável)
- “Se eu sair, isto desmorona.” (ilusório)
Pior: a gestão torna-se emocionalmente instável, personalista, reativa — e a cultura da empresa começa a refletir essa confusão entre pessoa e negócio.
Onde entra o Interim Manager?
O Interim Manager entra sem apego. É um profissional temporário, mas com impacto permanente. E mais importante: não precisa de ser amado. Precisa de ser eficaz.
A sua missão é interromper ciclos emocionais disfuncionais com:
- Dados, não drama;
- Processo, não ego;
- Coragem, não conveniência.
Ele lê a empresa como um sistema. Se a liderança está emocionalmente contaminada, ele intervém com o distanciamento que mais ninguém ali consegue ter.
As 4 Ferramentas-Chave do Interim Manager na Gestão Emocional
1. Tradução Emocional
Antes de confrontar, ele escuta. Lê as entrelinhas. Um “não confio nesse sistema” pode significar “tenho medo de perder o controlo”. Um “essa equipa não entrega” pode ser “não sei liderar millennials”. O Interim Manager traduz dores em ações concretas.
2. Despersonalização Estrutural
Ele afasta a emoção da decisão. Processos, rituais de reporting, métricas objetivas — tudo serve para proteger a organização dos impulsos emocionais de quem manda. O foco passa de “quem fez” para “como funciona”.
3. Modelação de Comportamento
Ao agir com assertividade emocional (sem picos, sem submissão, sem guerra de egos), o Interim torna-se um espelho e um modelo. Ele mostra como se lidera sem apego — e obriga os outros líderes a repensarem o seu próprio papel.
4. Preparação para Sucessão
Se o “dono” não quer largar, o Interim começa a preparar o momento em que ele terá de o fazer. Não o força a sair. Mas mostra o que acontece se não houver sucessores — e apresenta alternativas. Com pragmatismo. Sem medo.
O Que Está Mesmo em Jogo
Empresas com síndrome de dono não falham por falta de talento — falham por falta de espaço para o talento respirar. O Interim Manager abre esse espaço. Mesmo que isso implique desconforto. Aliás, sobretudo por isso.
Ele não precisa de ser amigo do dono. Precisa de ser o profissional que o obriga a crescer — ou, pelo menos, a sair do caminho.
Conclusão
A síndrome de dono é uma prisão emocional disfarçada de liderança visionária. Os Interim Managers entram como “libertadores operacionais”, combinando empatia com dureza cirúrgica. Porque às vezes, a melhor forma de salvar uma empresa… é fazer com que o seu fundador olhe para ela de fora.
Nota final: Se um Interim Manager mexe com o seu ego — provavelmente é porque está a tocar no ponto certo.