
Um dos principais desafios de um interim manager é a consciência de que a sua passagem é temporária. Não existe um compromisso a longo prazo, nem a oportunidade de colher os frutos da mudança implementada. No entanto, este contexto pode, paradoxalmente, ser uma das maiores forças da liderança interina.
Liderar sem estar presente no futuro obriga a uma abordagem orientada ao impacto imediato, à transferência de capacidades e à criação de valor duradouro. Este artigo explora estratégias práticas para construir esse impacto, mesmo quando não se fica para ver o legado consolidar-se.
1. Liderar com Clareza de Propósito
Interim managers que causam verdadeiro impacto começam por estabelecer um propósito claro. Mais do que objetivos operacionais, é essencial comunicar:
- Por que razão a sua presença é necessária agora;
- Que tipo de transformação está em curso;
- Qual o valor que ficará após a sua saída.
Uma narrativa forte desde o primeiro dia ajuda a alinhar a equipa e a reduzir resistências, transformando urgência em foco coletivo.
2. Criar Fundações, Não Dependências
Um erro comum é o interim manager assumir demasiadas responsabilidades críticas. Embora seja tentador mostrar resultados pela execução direta, a verdadeira eficácia está em:
- Transferência de competências: capacitar líderes internos para que conduzam a mudança;
- Sistemas de auto‑monitorização: implementar métricas e rotinas de revisão sustentáveis;
- Documentação viva: criar playbooks e manuais operacionais que sobrevivam à sua ausência.
3. Maximizar os Primeiros 30 Dias
O período inicial é crucial. Em vez de perder tempo com diagnóstico excessivo, interim managers de alto desempenho concentram-se em:
- Realizar entrevistas estratégicas com decisores e operadores;
- Identificar rapidamente as “alavancas de impacto imediato”;
- Criar confiança e estabelecer credibilidade através de escuta ativa e ação visível.
4. Desenvolver Equipas como Arquitetos da Mudança
Uma liderança que não permanece precisa de uma equipa que continue a missão. Para isso, o interim manager deve:
- Criar ownership interno das iniciativas-chave;
- Delegar decisões com critérios claros;
- Recompensar a responsabilidade e o alinhamento com os objetivos.
O foco não é protagonismo individual, mas sim a distribuição inteligente da liderança.
5. Storytelling como Ferramenta de Transição
O storytelling não serve apenas para alinhar equipas; é também a ponte entre a sua liderança e o que vem depois. Use narrativas para:
- Explicar o “porquê” da mudança;
- Criar símbolos culturais que perdurem (ex: histórias de quick wins);
- Preparar a organização para a nova liderança pós-interim.
6. Medir o que Importa (E Mostrar os Resultados)
Impacto sem medição é perceção. Estabeleça KPIs com visibilidade interna, que mostrem progressos reais:
- Negócio (ex: melhoria de margem, aumento de NPS);
- Equipa (ex: engagement, retenção);
- Estruturais (ex: criação de novos processos ou políticas).
A liderança interina não é um intervalo — é uma intervenção. Quando bem conduzida, cria os alicerces para um crescimento contínuo, mesmo sem a permanência do líder. Interim managers eficazes operam como catalisadores de transformação sustentável, usando o tempo limitado como força motriz, e o legado como resultado, não como objetivo.