
Vivemos um tempo em que as empresas são avaliadas não apenas pelos resultados financeiros que apresentam, mas também pelo impacto que têm no planeta e na sociedade. Este é o núcleo do chamado capitalismo dos stakeholders, em que acionistas, colaboradores, clientes, comunidades e reguladores influenciam directamente as decisões estratégicas das organizações.
Neste contexto, o interim management — a liderança executiva a projeto— assume uma nova relevância. Se antes o interino era convocado apenas para gerir crises ou preencher lacunas, hoje pode ser um agente decisivo na implementação de estratégias ESG (Environmental, Social e Governance), de políticas de inclusão e da construção de legados duradouros.
Mas como pode um executivo que não ocupa uma posição permanente conduzir transformações tão estruturais? A resposta está em três factores: neutralidade política, velocidade de execução e foco em resultados mensuráveis.
O que é o Capitalismo dos Stakeholders?
O conceito ganhou notoriedade no Fórum Económico Mundial de Davos e assenta na ideia de que as empresas não existem apenas para gerar lucro imediato, mas para criar valor sustentável para todos os públicos que influenciam ou afectam.
Características principais:
- Pressão para práticas ESG: relatórios de sustentabilidade são cada vez mais exigidos.
- Diversidade e inclusão: as organizações são avaliadas pelo modo como representam a sociedade em que operam.
- Transparência e governação: as decisões têm de ser justificáveis não apenas em termos financeiros, mas também éticos.
O Papel do Interim Manager nas Agendas ESG
Os executivos interinos podem acelerar a implementação de agendas ESG porque:
- Entram com neutralidade política: não estão condicionados por jogos de poder internos.
- Implementam métricas rápidas: podem estruturar KPIs de sustentabilidade em ciclos de 90 a 120 dias.
- Traduzem expectativas externas: fazem a ponte entre activistas, investidores e reguladores, e a realidade operacional da empresa.
Exemplo prático: Uma empresa alimentar sob pressão por cadeias de fornecimento sustentáveis contratou um interim manager que, em seis meses, redesenhou critérios de auditoria de fornecedores, alinhou relatórios ao GRI (Global Reporting Initiative) e estruturou um plano de comunicação com ONG, reduzindo drasticamente a contestação pública.
Auditorias de Sustentabilidade e Activismo de Stakeholders
Auditorias
- Preparação documental: consolidar dados sobre emissões, consumo de energia e políticas de diversidade.
- Gap analysis: identificar diferenças entre práticas internas e padrões internacionais (SASB, TCFD).
- Planos de acção curtos: recomendações implementáveis em 90 dias.
Activismo como oportunidade
- Escuta activa: perceber quais são as exigências inegociáveis.
- Negociação inteligente: transformar exigências em projectos-piloto de curto prazo.
- Comunicação transparente: assumir falhas, mas mostrar um caminho de evolução credível.
Inclusão e Diversidade: Mais do que Narrativa
O capitalismo dos stakeholders exige que a diversidade e a inclusão deixem de ser apenas discurso para se tornarem prática quotidiana.
Como o interim manager pode intervir:
- Microintervenções culturais: ajustar símbolos, linguagem e rituais corporativos.
- Definir KPIs de inclusão: metas claras em recrutamento e progressão de carreira.
- Laboratórios de diversidade: experiências-piloto que podem ser escaladas depois.
Exemplo prático: Numa multinacional financeira, um interino implementou sessões semanais de “café da inclusão”, onde colaboradores de diferentes origens partilhavam experiências. Em poucos meses, a taxa de retenção de talentos diversos melhorou e o clima interno tornou-se mais positivo.
Como Criar Legado Sem Permanência
Apesar de contratos temporários, um interim executive pode deixar marcas duradouras:
- Institucionalizando processos: relatórios ESG ou dashboards de diversidade que continuam a ser usados.
- Criando símbolos culturais: rituais e práticas que se enraízam.
- Formando sucessores: preparar líderes internos para dar continuidade ao trabalho iniciado.
Exemplo prático: Um interim CFO numa indústria química implementou um sistema de medição de emissões de carbono que passou a ser usado como base para os relatórios anuais, tornando-se parte central da estratégia da empresa.
Conclusão
O interim management deixou de ser apenas uma solução temporária para se tornar um instrumento estratégico na era do capitalismo dos stakeholders.
Executivos interinos têm a capacidade única de:
- Impulsionar agendas ESG com neutralidade e rapidez.
- Gerir auditorias e activismo com pragmatismo.
- Fomentar inclusão e diversidade com acções tangíveis.
- Criar legados que perduram após a sua saída.
Num mundo onde propósito, impacto e responsabilidade são tão relevantes como lucros, o interim management demonstra que a liderança temporária pode deixar marcas permanentes.