
As crises raramente dão aviso prévio. Uma falha tecnológica, um ataque cibernético, uma quebra na cadeia de abastecimento ou um escândalo reputacional podem exigir decisões em minutos — e não em semanas. Nestes momentos, os modelos tradicionais de liderança, baseados em hierarquia e deliberação extensa, revelam-se insuficientes.
É aqui que os interim managers entram em cena. Habituados a actuar em contextos de incerteza, precisam de dominar técnicas de liderança em tempo-comprimido, semelhantes às aplicadas em ambientes de pressão extrema como a OTAN (coordenação militar), a NASA (missões espaciais) e as salas de emergência hospitalares.
Estes contextos fornecem lições valiosas para a gestão empresarial e demonstram como os interim managers podem transformar crises em oportunidades de reforço organizacional.
Porque é que as Crises Exigem um Tipo Diferente de Liderança
- Informação incompleta
Em plena crise, os dados são fragmentados ou contraditórios. A espera por certeza pode ser fatal. - Tempo crítico
Cada minuto perdido aumenta o impacto negativo. Liderar significa decidir com urgência, mesmo sem ter todos os elementos disponíveis. - Impacto humano
O medo e a ansiedade elevam-se. Manter a equipa focada e emocionalmente estável é tão importante quanto tomar decisões estratégicas. - Repriorização radical
Em crises, os projectos de longo prazo perdem relevância. O foco passa a ser continuidade, contenção e recuperação.
Lições da OTAN: Coordenação Multinacional e Agilidade
A OTAN opera em cenários de conflito em que múltiplos países têm de actuar de forma coordenada sob risco imediato.
O que a OTAN ensina:
- Comando descentralizado: cada unidade deve poder agir sem esperar por aprovação central.
- Protocolos claros: papéis e responsabilidades definidos antecipadamente aceleram decisões.
- Propósito partilhado: as ordens são sempre ligadas à visão estratégica, não apenas a tarefas isoladas.
Aplicação empresarial:
Durante a pandemia, um interim CEO numa empresa de logística global criou “células de resposta regional” com autonomia para decidir localmente sobre transporte e segurança, mantendo alinhamento global através de briefings diários. Esta estrutura híbrida reduziu bloqueios e aumentou a resiliência.
Lições da NASA: Preparar o Inesperado
A NASA trabalha em missões onde um erro mínimo pode custar vidas e milhares de milhões de dólares. O segredo está na preparação intensiva para falhas.
O que a NASA ensina:
- Simulações de cenários extremos: treinar constantemente como reagir quando tudo corre mal.
- Planos redundantes (A, B, C): alternativas pré-definidas reduzem a paralisia em momentos críticos.
- Debriefings rigorosos: cada missão é seguida de uma análise profunda para melhorar processos.
Aplicação empresarial:
Num banco europeu, um interim CIO conduziu um exercício de “cyber drill”, simulando um ataque informático em tempo real. A simulação revelou falhas críticas na resposta inicial. Depois de ajustadas, a organização conseguiu mitigar um ataque real meses depois com mínimo impacto.
Lições dos Médicos de Emergência: Triage e Execução Modular
Num serviço de urgência hospitalar, segundos podem significar vida ou morte. Médicos não podem tratar todos ao mesmo tempo: precisam de priorizar.
O que os médicos de emergência ensinam:
- Triage: classificar rapidamente os casos mais críticos e tratáveis primeiro.
- Execução modular: dividir tarefas entre equipas em paralelo.
- Comunicação simples: ordens claras e directas, sem espaço para interpretações ambíguas.
Aplicação empresarial:
Um interim COO numa empresa industrial, em plena crise de abastecimento, aplicou o princípio da triagem: identificou fornecedores absolutamente críticos e concentrou recursos apenas neles. Esta escolha permitiu manter a produção mínima enquanto se procuravam alternativas para os restantes.
Técnicas Práticas de Liderança em Crise
- Decidir com 70% da informação
Esperar por 100% de certeza atrasa decisões. Agir com base em informação suficiente é mais eficaz do que procurar perfeição. - Debriefings imediatos
Após cada acção, realizar uma análise rápida do que funcionou e do que falhou para corrigir trajectórias em tempo real. - Execução modular
Criar equipas autónomas responsáveis por diferentes frentes: clientes, operações, comunicação. - Gestão da energia emocional
Celebrar pequenas vitórias e reforçar o sentido de missão são essenciais para manter a motivação da equipa.
Desafios da Liderança em Crises
- Risco de burnout: a pressão contínua pode desgastar equipas.
- Visibilidade extrema: cada acção do líder é escrutinada por stakeholders e comunicação social.
- Paralisia por medo: o receio de errar pode bloquear decisões, agravando o impacto.
O Legado de um Interim em Contextos de Crise
Embora temporário, o impacto de um interim manager pode perdurar ao:
- Institucionalizar protocolos de resposta rápida.
- Treinar equipas internas para futuras crises.
- Criar uma cultura de aprendizagem contínua através de debriefings estruturados.
Exemplo prático: Após gerir um recall de medicamentos, um interim COO deixou um manual de gestão de crises com fluxos de decisão e templates de comunicação. Esse manual foi utilizado anos depois, reduzindo em 40% o tempo de resposta a outra emergência.
Conclusão
As crises são inevitáveis, mas o colapso não tem de ser. Inspirando-se na OTAN, na NASA e nas salas de emergência, os executivos interinos podem liderar organizações em contextos de pressão extrema com foco, clareza e rapidez.