A Contratação de um Interim é Sempre um Sinal de que Algo Precisa de Ser Corrigido

A Contratação de um Interim é Sempre um Sinal de que Algo Precisa de Ser Corrigido

A contratação de um interim manager não ocorre quando tudo está a funcionar corretamente. Este tipo de profissional é chamado quando:

  • Um líder-chave abandona a organização (ou é afastado) e não há clareza sobre os passos seguintes.
  • Uma transformação significativa começa a sair do controlo.
  • O negócio encontra-se bloqueado, com decisões por tomar — ou pior, decisões que são tomadas, revertidas e repetidas.

Nestes cenários, há frequentemente pelo menos um elemento da liderança que, conscientemente ou não, contribui para a complexidade da situação:

  • O executivo que altera a estratégia semanalmente, sem nunca a implementar.
  • O responsável financeiro que bloqueia despesas, mas exige inovação.
  • O “visionário” que projeta grandes ideias, mas desvaloriza completamente a execução.

A gestão interina consiste, assim, tanto em resolver problemas operacionais quanto em gerir as dinâmicas humanas que os acompanham.

1. O Guardião do Micro-Management

Perfil caracterizado por uma necessidade excessiva de controlo e pela incapacidade de delegar, mesmo nas decisões mais triviais.

Este tipo de líder:

  • Requer aprovação pessoal de todas as decisões.
  • Solicita relatórios e dados constantemente, mas raramente os analisa.
  • Controla minuciosamente o processo e, simultaneamente, queixa-se da lentidão dos resultados.
  • Responsabiliza as equipas por atrasos que ele próprio provocou.

Abordagem dos Interim Managers:

  • Antecipam a necessidade de informação, disponibilizando dados de forma proativa.
  • Permitem que o micro-management ocorra em áreas não críticas (ex. design de apresentações), enquanto se concentram na execução das tarefas fundamentais.
  • Gerem a comunicação de forma a garantir que os líderes sentem que as decisões refletem as suas próprias ideias, reduzindo a resistência.

Num ambiente onde o controlo excessivo já silenciou a equipa interna, o papel do interim é desbloquear decisões e restaurar a capacidade de execução.

2. O Visionário Impulsivo

Trata-se de líderes com elevado dinamismo, mas com fraca consistência. Uma semana estão focados em inteligência artificial, na seguinte em blockchain, e dias depois em Web3 — enquanto a organização ainda tenta implementar a ideia anterior.

Características frequentes:

  • Geração constante de novas ideias, sem compromisso com a execução.
  • Intolerância a planos detalhados, apesar de exigir resultados rápidos.
  • Mudança constante de prioridades, comprometendo a conclusão de iniciativas.

Abordagem dos Interim Managers:

  • Estruturam as iniciativas em ciclos curtos (ex. 90 dias), oferecendo entregas visíveis e mensuráveis em pouco tempo.
  • Incorporam flexibilidade nos planos de ação, antecipando mudanças de direção.
  • Documentam todo o processo de decisão para manter a consistência estratégica e garantir a rastreabilidade, mesmo quando há alterações de rumo.

Neste tipo de contexto, o risco principal não está nas ideias, mas na sua não execução. O interim age como catalisador de entrega, mantendo a visão, mas assegurando progresso real.

3. O Disruptor Obcecado com o Status

O disruptor está menos interessado em eficiência operacional e mais focado na perceção externa — deseja ser visto como líder de mercado, mesmo que tal não seja justificado por dados concretos.

Comportamentos típicos:

  • Obsessão em ser o “primeiro”, independentemente da vantagem competitiva real.
  • Valorização da visibilidade e do reconhecimento pessoal sobre os resultados tangíveis.
  • Promoção de mudanças radicais sem uma estratégia clara de execução.

Abordagem dos Interim Managers:

  • Reposicionam a execução como uma oportunidade de afirmação no mercado.
  • Garantem que o crédito pelo sucesso é atribuído ao líder, assegurando o seu apoio incondicional.
  • Reformulam ideias ambiciosas em planos operacionais viáveis e faseados, gerindo expectativas sem comprometer o entusiasmo.

Neste perfil de liderança, o perigo reside na promessa excessiva e na entrega insuficiente. O interim atua como ponte entre a ambição e a realidade operacional.

Considerações Finais

A presença de líderes excêntricos, impulsivos ou excessivamente controladores não constitui, por si só, um fator de insucesso. O verdadeiro problema surge quando se acredita que esses líderes podem ser completamente controlados.

Na prática, estes perfis:

  • Movem-se rapidamente.
  • Mudam de opinião com frequência.
  • Raramente mantêm coerência com pedidos anteriores.

A função de um interim manager não é contrariar estas dinâmicas, mas sim canalizá-las de forma produtiva — assegurando que a empresa continua a avançar, mesmo sob liderança instável.

A maioria das organizações não falha por falta de ideias. Falha por incapacidade de as executar em ambientes de liderança caótica.

É precisamente neste ponto que o valor do interim manager se torna evidente.

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