
Há alguns anos, bastava uma crise para o telefone tocar. Do outro lado, uma empresa em apuros. Do lado de cá, um interim manager pronto a entrar em cena. Sozinho, decidido e com um plano em marcha — o clássico “herói solitário” da gestão.
Mas os tempos mudaram. As empresas também. E hoje, essa figura cede espaço a um novo protagonista: o agente sistémico. Um profissional que não age isoladamente, mas compreende a organização como um sistema vivo, onde tudo está interligado.
Interim Manager: de executor a facilitador estratégico
O interim manager é um gestor temporário, altamente qualificado, chamado para resolver desafios específicos — fusões, reestruturações, crescimento acelerado ou lacunas de liderança. O que antes era uma função reativa e pontual, hoje é cada vez mais estratégica e integrada.
O Herói Solitário: Um modelo que já deu o que tinha a dar?
Durante muito tempo, o interim manager foi encarado como aquele que chegava, decidia e resolvia. Com independência total, pouca ligação ao contexto interno e foco quase exclusivo em resultados imediatos.
Funciona em crises urgentes? Talvez.
Mas será que esse estilo ainda responde aos desafios de um mundo onde tudo muda em rede — processos, pessoas, tecnologia e cultura?
O Novo Perfil: O Agente Sistémico
O gestor interino do presente (e do futuro) tem uma abordagem diferente. Já não vem “impor” mudanças, mas orquestrá-las com inteligência organizacional. Eis o que o distingue:
1. Integração em vez de imposição
Em vez de se posicionar como um “corpo estranho”, procura compreender a cultura e adaptar-se ao ecossistema onde vai intervir.
2. Liderança em rede
A força já não vem da autoridade isolada, mas da capacidade de criar alianças internas, mobilizar talentos e articular partes que raramente se cruzam.
3. Pensamento sistémico
As decisões não são tomadas em silos. Cada ação é ponderada em função do impacto transversal que poderá gerar noutros departamentos, equipas ou processos.
4. Impacto com continuidade
O foco já não é apenas “resolver e sair”, mas sim criar capacidades internas que permaneçam e se desenvolvam depois da sua saída.
Porque esta transição faz toda a diferença?
Porque os problemas actuais são tudo menos lineares. Já não basta alguém que venha “dar ordens” e “pôr tudo no sítio”.
Hoje, liderar mudanças exige escuta ativa, visão de sistema, empatia estratégica e inteligência relacional.
Se um interim manager entra com pressa de resolver antes de perceber, pode até agir rápido — mas será que está a resolver o problema certo?
O Que Procurar num Interim Manager Hoje?
Se estás à procura de alguém para liderar uma transição ou enfrentar um desafio, talvez valha a pena procurar mais do que experiência técnica. Pergunta:
- Sabe adaptar-se ao ADN da empresa?
- Consegue ouvir antes de agir?
- Trabalha com as pessoas ou apesar delas?
- Deixa um legado — ou apenas um relatório?
Do individual ao sistémico
O interim manager já não é apenas o especialista que entra de rompante para apagar fogos. É cada vez mais um catalisador de mudança consciente, que vê a organização como um todo, age com inteligência relacional e deixa estruturas mais fortes do que encontrou.
Num mundo onde a complexidade é a norma, liderar sozinho é coisa do passado. Hoje, a verdadeira força está em quem sabe mobilizar o sistema.